Editorial: |
A evolução do ensino superior de enfermagem em Portugal nas últimas décadas pode ser retratada como uma história de sucesso embora com alguns fracassos. Sucesso na crescente qualificação do corpo docente retratado no aumento significativo do número de mestrados e doutoramentos e de outras formações ao nível científico e pedagógico, da qual tem resultado melhoria da qualidade do ensino e dos cuidados. Mas é de igual modo uma história com alguns aspectos menos positivos, empane resultantes dessa evolução demasiado rápida, não dando espaço para a criação e sedimentação de regras esquecendo-se, por vezes, que uma instituição de ensino superior deve ser o resultado de tradições culturais e científicas e não um local onde o poder e as grandes solicitações do mercado de trabalho determinam o seu funcionamento. Isto porque, apesar da inegável necessidade de enfermeiros, não nos podemos esquecer que a quantidade é por vezes inimiga da qualidade.
Uma política de qualidade passa fundamentalmente pela independência e autoridade científica dos actores no processo de ensino-aprendizagem. Importa pois manter o bom senso e o equilíbrio entre as necessidades deformação e a necessidades de aperfeiçoamento do modelo pedagógico, revendo os aspectos que necessitam de mudança, garantindo o respeito pela excelência do ensino e consequentemente dos cuidados.
Uma visão humanista do ensino de enfermagem, assente na ciência, na cultura e na investigação, deve recusar uma perspectiva tecnocrática, fundada no deve e haver característico de uma visão comercial do ensino e da aprendizagem, que de modo algum contribuem para realização pessoal e profissional dos enfermeiros. - Â articulação entre ensino e investigação científica é uma das directivas políticas para o ensino superior a que as Escolas de Enfermagem não podem deixar de prestar atenção. Isto passa pela articulação entre o ensino e a investigação, quer sob o ponto de vista da organização curricular, quer na óptica dos professores e estudantes. É importante, por isso, criar mecanismos de publicação do potencial científico, de modo a que todos possam aproveitar dos seus resultados, contribuindo para a construção da sociedade baseada no conhecimento.
Só assim a Escola, enquanto instituição de ensino superior, assume o princípio de que o futuro da humanidade depende, em larga medida, do desenvolvimento cultural, científico e técnico que se forja em centros de cultura, de conhecimento e de investigação, dando resposta à Magna Carta de Bolonha, assinada por Portugal que aponta a actividade didáctica como indissociável da investigação. Uma vez que não é possível resolver os problemas do ensino superior sem a coexistência da transmissão de conhecimento e criação de conhecimento. Logo, o caminho a seguir não pode ser outro senão o equilíbrio entre as actividades de ensino e de investigação científica.
O reconhecimento da importância da enfermagem baseada na evidência adquire primordial destaque, dado que parece não restarem dúvidas que só mediante estudos sistemáticos e rigorosos dos fenómenos directamente relacionados com a prática dos cuidados — estudos que demonstrem duma forma clara o impacto dos cuidados de enfermagem na saúde dos indivíduos —. é que os enfermeiros podem construir a sua base de conhecimento e fazer pane integrante do sistema de saúde. Isto só será possível com a realização de projectos de investigação em parceria com as Instituições de Saúde e com a divulgação dos resultados das pesquisas efectuadas.
Apesar de as instituições de ensino superior estarem sujeitas mais do nunca às forcas sociais e económicas exteriores, há que continuar a privilegiar o ensino e os métodos de aprendizagem, a investigação e a sua articulação com o ensino e a inovação e o relacionamento institucional com a sociedade, pois só assim caminharemos para um ensino de qualidade e para a sociedade do conhecimento.
Por tudo isto, a revista Referência continua a ser uma mais-valia da Escola e de todos os que a ela queiram recorrer, cuja missão fundamental é Jazer a divulgação das investigações efectuadas por professores, estudantes e enfermeiros.
Maria Teresa Calvário Antunes
Directora |