Editorial: |
A Propósito do Ano Internacional do Idoso (1999)
"Dar vida aos anos e não apenas anos à vida."
O ano de 1999foi designado pela Assembleia Geral das Nações Unidas o Ano Internacional do Idoso, certamente para, entre outros aspectos, chamar a atenção para o aumento percentual do número de idosos nos países da União Europeia e para o incremento das necessidades que daí decorrem, nomeadamente em termos de segurança social, de saúde e de criação de estruturas que cuidem, apoiem e ocupem o indivíduo nesta fase da sua vida, fenómeno a que grande parte dos governos e das comunidades não têm prestado a devida atenção.
Como sabemos, desde os nossos antepassados mais remotos até à geração anterior existiam as designadas famílias alargadas, ou patriarcais, onde três ou mais gerações conviviam sob o mesmo tecto e onde predo¬minava o número de crianças, devido a vários motivos, um dos quais era o entendimento destas famílias como unidades económicas cujo valor (braços de trabalho) aumentava com o número de membros activos, ou potencialmente activos.
De repente, no espaço de algumas décadas, verificou-se uma mudança radical. Em comunidades e países que preconizavam uma prole de oito, dez ou mais filhos, predomina actualmente a regra do filho único, sendo excepção os casais com dois ou três filhos.
Este decréscimo de natalidade, aliado a outros factores, dos quais o mais importante serão aumento progressivo da esperança média de vida, levaram a que o percentual de idosos, relativamente à restante população, tenha aumentado exponencialmente, aponto de se afirmar que no final do Século XX, a Europa não é apenas o Velho Continente mas também o Continente dos Velhos. De facto, diversas projecções demográficas indicam-nos que, continuando a tendência manifestada ao longo do Século XX. O número de idosos continuará a crescer na Europa, no Século XXI, o que, aliado á diminuição da população Juvenil, poderá conduzir a que, lá para os meados do próximo século, haja uma redução de 20 por cento da população europeia em geral.
Este fenómeno, que é comum em toda a Europa, mesmo nos países da Europa de Leste, é mais acentuado em países mediterrâneos como a Itália, a Espanha e Portugal, embora no nosso país a situação não seja tão alarmante. De qualquer modo, há que referir que, segundo o Censo de 1981, existiam 45 por cento de idosos (com 65 ou mais anos) relativamente ã população juvenil, enquanto que em 1997 este percentual duplicou, sendo neste anoja de 89 por cento.
Embora os especialistas e redactores do Livro Branco da Segurança Social não tenham conseguido um trabalho final de consenso, apontam projecções que nos indicam que, nos próximos trinta anos, a população idosa deverá aumentar em cinquenta por cento, relativamente à população em geral e, se o ritmo de nascimentos não aumentar, existirão dois idosos por cada jovem, por essa altura.
Uma das medidas que vêm sendo tomadas para enfrentar esta situação tem sido o aumento das prestações sociais, o qual passou de 17,4por cento em 1990 para 22,5 por cento em 1996. De igual modo aumentaram as despesas públicas com a saúde, assistência e protecção social, nomeada¬mente com (^família, o desemprego, a habitação e a exclusão social. Cremos que num futuro, de longo ou mesmo de médio prazo, esta situação se irá agravar substancialmente, não apenas pelo aumento crescente do número de idosos e do seu percentual em relação ã população em geral mas também porque as pessoas, em função de terem tido um percurso contributivo mais longo, terão direito a reformas de valor mais elevado.
Outro tipo de medidas que, na última ou últimas décadas, têm vindo a ser implementadas, reportam-se a criação de estruturas de apoio cio idoso, no seu domicílio, em centros de dia, em lares de idosos ou em organizações de outro tipo mas com idênticos objectivos, de natureza pública, autárquica, religiosa ou privada, as quais, embora ainda insuficientes, vão respondendo aos problemas mais prementes.
Contudo, não obstante o que foi referido, muito há ainda a fazer na área de apoio ao idoso, nomeadamente pela Enfermagem, cujos profissionais e organizações, nos parece, não se encontram suficientemente sensibilizados para dedicarem a sua actividade ao estudo e ã prestação de cuidados a este grupo etário, sendo os mesmos assumidos, muitas vezes, por outros sem a preparação adequada e sem qualquer tipo de orientação ou coordenação profissionais.
Estando neste momento as Escolas Superiores de Enfermagem em fase de elaboração dos Planos de Estudos e dos Programas dos futuros Cursos de Enfermagem (conferindo o grau de licenciado), é imprescindível que neles sejam incluídas unidades curriculares teóricas e práticas que preparem (e motivem!) os enfermeiros para a prestação de cuidados de qualidade ao idoso, não se restringindo aos cuidados hospitalares.
A "Referência” associa-se à iniciativa do Ano Internacional do Idoso, comprometendo-se a reservar um espaço privilegiado no seu próximo número (n.º 3 - Setembro de 1999) para a abordagem da problemática da saúde e assistência ao idoso, considerando as propostas de artigos que versem estas temáticas como prioritárias para publicação.
Purificação Fernandes
Coordenadora da Comissão Científica |